terça-feira, 21 de abril de 2009

Fora de foco

Como foi dito no post inicial deste blog, o Passando a bola abrirá espaço para que nossos amigos se tornem colaboradores, contribuindo com textos que possam enriquecer este espaço. Estreando hoje nesta função, meu amigo Leandro Pontes, torcedor tricolor fanático, fala sobre a atual situação do seu time, o Fluminense.



Acordo bem antes da hora usual de domingo. O ordinário na cabeceira mantivera a mesma função dos outros dias da semana. Cravavam sete quando, a susto, ele me despertou. Ainda incapaz de discenir qualquer coisa, vou direto olhar o jornal. Na seção de esportes diz que todos os bilhetes para o clássico da moda no Maracanã já estão esgotados há quatro dias. Sorumbático ainda, ensaio uma volta para a cama. Preciso estar recomposto, a plenos pulmões, pois, logo mais, verei meu Fluminense desfilar no Maracanã. Mas tão logo aquele mosaico de palavras ganha foco, me traz à realidade. Triste, percebo que o Fluminense não existe por hoje. Volto logo para cama, porque se for para ser assim, sonhar é bem melhor do que viver…
Uma domingueira esportiva em que, pelos principais estados da federação, grandes decisões envolviam grandes agremiações. Neste ano, como nos quatro últimos, o Fluminense está alijado. Prostrados, acostumamo-nos a assistir pela televisão o nosso maior rival disparar na conquista de títulos estaduais, retirando de nós a eterna hegemonia carioca. Inclusive, tendo agora a oportunidade de tomá-la, de fato. Também não seriam apenas os quatro arremates nos últimos vinte e cinco anos que sustentariam a supremacia tricolor frente aos nove canecos levantados pelo rubro-negro neste mesmo tempo.
Mas, como bem sabemos, ou deveríamos, está muito longe de ser o estorvo do Fluminense a carência de títulos. Não é esse o fato que nos coloca na atual situação de mediocridade no cenário futebolístico nacional. Mas é, enquanto instituição centenária, a ignorância repleta ao que é moderno, a causa e o efeito de ser do Fluminense de hoje. A manutenção de uma política anual de alugar elencos, a contratação de jogadores inclassificáveis, já há alguns anos nos impossibilita pari passu na disputa do campeonato carioca. E retira de nós torcedores, como que arbitrariamente, uma das poucas razões que tínhamos para nos gabar diante dos rivais: a maior coleção de taças do Rio de Janeiro.
Criado este vício pelo modelo de gestão dos recursos financeiros, que privilegia o luxo das grandes contratações à necessidade incontestável de uma estrutura física, é rotineiro chegarmos à metade da temporada sem um elenco montado. Ou, como nesse ano, que sequer temos um time. O que o nosso patrocinador não está sabendo é como fazer alguns jogadores, contratados com vencimentos acima do que paga o mercado, respeitarem devidamente a história do Fluminense. Mas também compreendo que, da parte deles, deva ser bem difícil levar a sério um clube com estrutura e dirigência tão retrógrados. Neste estágio de amadorismo, um centro de treinamento longe de Laranjeiras, não é somente um lugar onde atletas e comissão técnica possam desenvolver um trabalho com qualidade. É também blindar o Fluminense do próprio Fluminense. É dar uma oportunidade para que o brio dos jogadores não seja corroído por um sistema de valores que tem muito pouca gana de vencer.
Nesta segunda-feira, em qualquer esquina da cidade fala-se de futebol, mas não de Fluminense. O time potencialmente superior aos dois finalistas que, com uma atitude pusilânime, optou por trair os seus torcedores na semana passada. Os mesmos que promoveram uma das festas mais bonitas que o Maracanã já viu até hoje, como, alias, tem sido feito. A cidade está dividida pelo futebol e, no entanto, temos que calar a nossa paixão e reconhecer que estaremos fora do foco pelos próximos quinze dias.
No mais, como diz o Eclesiastes, há muito pouca coisa debaixo do céu. Em outras palavras, a natureza já veio pronta e o homem cria muito pouco além dela. À falta de originalidade cabe o mérito pueril da cópia. Neste domingo em que não houve jogo do Fluminense, o mérito maior continuou sendo o de sua torcida. Parabéns tricolores pelo mosaico!
Por Leandro Pontes

2 comentários:

Victor Valente disse...

HAuahuahuahuah. Tudo bem, entendo que o cara abriu o coração dele, ta tentando ajudar o time e tal, mas que esse é o retrato atual do tricolor não tem como negar. Pobres aqueles que não tem um título para comemorar.

Valeu Leandro, seja muito bem vindo ao Passando a Bola.

Leandro Pontes disse...

Aí é que você se engana meu nobre. É papo de quem pensa grande, muito grande... porque o Fluminense que eu quero ver, é ganhando de Brasileiro para cima. Se você realmente se contenta enquanto torcedor a levar apenas o carioca, tudo bem. Mas eu acho isso muito pouco. Apesar de tudo o Fluminense foi o time carioca que nos últimos anos chegou mais perto de levar um título de grande expressão no cenário mundial. Alias passou perto não, bateu na trave... Em resumo, as coisas no futebol não andam tão bem não só para mim, mas para nós todos... O que falo de amadorismo, mediocridade na gestão dos clubes, vale para nós todos. Abraços!!!