No dia 20 de dezembro de 1967, na sede do Mourisco Pasteur, no Rio de Janeiro, houve um jantar de confraternização em homenagem aos campeões do Campeonato Carioca daquele ano, presidido por Althemar Dutra de Castilho, que acabara de derrotar Ney Cidade Palmeiro nas eleições do Botafogo. Quando a festa já começara, João Saldanha (foto) chegou acompanhado de Luiz Mendes e Bebeto de Freitas (ex-presidente do Botafogo e sobrinho de Saldanha). Nesse exato instante, Manga (foto) levantou-se da mesa e caminhou decidido em direção a Saldanha. João, que sempre andava armado, sacou seu revólver e deu dois tiros em Manga, que só não acertaram o alvo porque Bebeto e Mendes seguraram seu braço de maneira mais do que providencial. Um terceiro tiro ainda foi disparado a esmo.
Manga, dotado de um porte físico extraordinário, fugiu em disparada e pulou, de uma só vez, o muro que cercava o Mourisco e desapareceu na noite. Sandro Moreyra, sempre galhofeiro, garantiu que Manga, naquela noite, batera o recorde mundial do salto em altura, pois os muros do Mourisco mediam cerca de três metros.
Mas toda essa história tem uma razão de ser. No dia 19 de setembro daquele ano, a então CBD (Confederação Brasileira de Desportos, atual CBF) teve a infeliz idéia de nomear Castor de Andrade, bicheiro e presidente do Bangu, para chefiar uma delegação brasileira que foi enfrentar o Chile no Estádio Nacional de Santiago. O Brasil, dirigido por Zagallo, venceu o Chile por 1 a 0, gol de Roberto, contando no seu time com vários jogadores do Botafogo, como Manga, Moreira, Zé Carlos, Leônidas, Gérson e Roberto, o autor do gol. Daí surgiram os boatos de que Castor teria aliciado Manga caso Botafogo e Bangu fossem para a final do campeonato, como aconteceu.
O fato é que Manga teve, como Saldanha disse, uma atuação suspeita no jogo contra o Alvirrubro. Num determinado lance, ao saltar com Del Vecchio, do Bangu, o goleiro alvinegro socou a bola contra as próprias redes, quando o placar (que seria o final) já era de 2 a 1 para o Botafogo. O árbitro deu falta de Del Vecchio, mas a partir desse momento, Gérson passou a jogar de líbero, entre Zé Carlos e Leônidas. Aí não passou mais nada. Até hoje o Canhotinha de Ouro silencia sobre o assunto. Mas Manga foi embora do Botafogo em 69, dez anos depois de chegar de Pernambuco. Hoje, 40 anos depois, o mistério permanece. Manga estava ou não vendido a Castor de Andrade?

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