quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Cotas da discórdia

Em 1991, os times que participavam da primeira divisão do Campeonato Inglês se uniram e criaram uma empresa que passaria a ser responsável pela organização da primeira divisão no país, que estivera nas mãos da federação inglesa por mais de 100 anos, e passou a se chamar Premier League. A federação passou então a organizar somente as divisões inferiores.

Essa mudança foi responsável pelo Inglês ter se tornado a liga mais rica e organizada do mundo, e os clubes sentiram a diferença gritante em seus cofres em pouquíssimo tempo com as novas negociações de cotas de TV. A divisão das cotas é simples, 50% dividido igualmente entre os clubes, 25% é distribuído de acordo com a posição na tabela e os demais 25% são divididos respeitando o percentual de pay-per-view de cada time.

Quatro anos, em 87, tivemos a oportunidade no Brasil de fazer o mesmo que os ingleses, com a criação da Copa União, que seria 100% gerida e negociada pelos principais clubes brasileiros, teoricamente, unidos. Depois do grande sucesso, inclusive financeiro, que a competição alcançou, sendo até hoje a segunda maior em média de público, a CBF percebeu a besteira que fez e quis de volta a organização do lucrativo futebol brasileiro, mesmo depois do papelão que protagonizou em 1986 com a bagunça sem limites na organização do Campeonato Brasileiro, que só terminou em fevereiro de 87, depois de seguidas mudanças no regulamento durante a competição.

Se não fosse pela ganância e desorganização da CBF e pela incompetência de nossos cartolas poderíamos estar vendo nosso futebol hoje em outro patamar, talvez não tão poderoso como o inglês, mas sem dúvida muito melhor do que o atual cenário. Romper com o clube dos 13 é estupidez, mas mais estupidez ainda é o C13 querer sonhar em dividir as cotas igualmente. Negociar cotas em separado pode gerar casos como o do Espanyol, de Barcelona, que já chegou ao ponto de não ter seus jogos no Campeonato Espanhol transmitidos para nenhuma televisão quando jogava com mando de campo, mesmo quando contra os dois grandes.

Na Espanha cada clube negocia diretamente com a tv a sua cota de transmissão, o que causa um abismo entre os dois principais clubes e os demais. Mas é nesse chamado "Direito de Arena" que mora a diferença com o Brasil. Segundo o artigo 42 da Lei Pelé, todos os participantes de um evento esportivo tem direito de transmissão sobre ele. Diferentemente das leis espanholas, onde cada time pode negociar sozinho os jogos que acontecem em seu estádio, sem a participação do time visitante nos lucros da transmissão daquele jogo. Resultado: nos últimos 15 anos, apenas em quatro Barcelona ou Real Madrid não foram campeões. Ou seja, negociar cotas de TV separadamente no Brasil é impossível. Imagina se dois times vendem o mesmo jogo para dois canais diferentes.

Disso tudo uma coisa me parece óbvia, a solução para as cotas começa com os clubes unidos, chegando primeiro a um consenso interno. Mas infelizmente, quando parece que vamos melhorar é ai que nosso futebol anda ainda mais para trás.