terça-feira, 6 de outubro de 2009

EXCLUSIVO - SABELLA: SINTO QUE ESTOU NO OLIMPO DESTE CLUBE

RAPHAEL MARTINS: Como o senhor está vivenciado o fato de ser um treinador campeão da América?

ALEJANDRO SABELLA: É uma alegria muito grande e uma responsabilidade enorme. Sei que entrei para a História, assim como esse elenco do Estudiantes. Para o nosso clube foi muito importante. E a forma como ganhou também foi marcante, pois jogamos um grande futebol e ganhamos de uma grande equipe, o Cruzeiro.

RM: O senhor foi auxiliar do Daniel Passarella no Corinthians e na seleção uruguaia. O que você pôde aprender com ele?

AS: Nós temos personalidades diferente mas pensamos o futebol de uma maneira parecida, com disciplina tática. Nesse sentido somos muito parecidos. Porém no tocante ao trato com os jogadores somos diferentes. Ele é mais linha-dura. Eu sou mais liberal. Mas dentro do campo sempre buscamos um time solidário e aguerrido. Tanto na hora de defender quanto na hora de atacar.
RM: Por essa análise pode-se dizer que o ponto forte desse time do Estudiantes é o jogo coletivo?

AS: Sim, o jogo coletivo e o caráter. O jogo coletivo e a técnica devem andar de mãos dadas. Uma coisa se alimenta da outra. O ponto forte desse Estudiantes é o jogo de equipe e a solidariedade. Tentamos jogar sem desespero, sempre pensando na vitória. Mesmo quando estamos perdendo procuramos não nos desesperar. Eu sempre digo que o futebol é jogado com os pés e com a cabeça.
RM: E dentro de campo essa “cabeça” da equipe é Verón?

AS: Verón é um grande jogador. É o melhor de nosso time, é o jogador mais importante. Todos no grupo têm essa consciência.

RM: Sendo técnico de uma equipe principal há menos de um ano, a conquista da Libertadores e o sucesso que vem tendo à frente do Estudiantes é uma surpresa?

AS: Assumi no dia 15 de março e em julho já era campeão da Libertadores. Não acho que foi uma surpresa pelo que disse antes. Trabalho com o caráter da equipe, com a força interior dos jogadores. Gosto de lembrar sempre a eles sobre a História desse clube. Durante a Libertadores sempre falava nas preleções sobre as conquistas do Estudiantes em 68, 69, 70. Sem falar que conto com uma lenda viva do clube em campo, que é Verón, filho de outra lenda do Estudiantes.

RM: Depois de ter assumido o Estudiantes, ter sido campeão da Libertadores e agora lidera o Torneio Apertura, o que mudou em sua vida nesse período tão curto de tempo?

AS: Muitas coisas não mudaram. Não sou muito de sair de casa. Quando não estou na minha residência estou no clube, e vice-versa. Sou uma pessoa tímida. Mas é claro que o fato de ser campeão traz seus efeitos. Não consigo caminhar pela rua por exemplo sem que apareça uma pessoa que queira tirar uma foto, pegar um autógrafo. Às vezes levo alguns sustos quando estou dirigindo porque as pessoas param ou emparelham seus carros ao lado do meu e começam a buzinar. Mas eu tenho noção de que agora ocupo um lugar importante na História do clube. Conquistei dois títulos argentinos com o Estudiantes como jogador, e agora ganhei um título continental. Sinto que estou no Olimpo de este clube.

RM: Como você vê a rivalidade entre os torcedores argentinos de uma maneira em geral? Entre Gimnasia e Estudiantes, por exemplo?

AS: La Plata não é uma cidade muito grande, mas também não é uma cidade pequena. O que eu acho é que a rivalidade aqui é muito violenta, o que é algo ruim. Em comparação com o Brasil, por exemplo, eu acho que as torcidas brasileiras são mais tranqüilas.

RM: Mas aqui no Brasil o Estudiantes teve apoio da torcida do Atlético, rival do Cruzeiro. Os cruzeirenses pressionaram muito o time do Estudiantes?

AS: Não. Foi tudo muito tranqüilo. Todos nos trataram muito bem. E sobre as rivalidades, isso é coisa do futebol. Mas é lógico que ficamos muito agradecidos pelo apoio nos dado pela torcida do Atlético Mineiro.

RM: Sobre o Torneio Apertura. Parece que o Estudiantes, mesmo já estando na próxima Copa Libertadores e tendo que disputar um Mundial em Dezembro, não se desligou do torneio local. Qual é a tática para manter a equipe focada no campeonato nacional?

AS: Isso não é uma coisa fácil de se conseguir. Sobre isso falo individualmente. Converso com cada jogador. Digo que o que está em jogo é a camisa do Estudiantes e lembro que existem vários jogadores das categorias de base dispostos a ganhar um lugar no time principal. Lógico que quanto mais se aproxima do Mundial a ansiedade tende a aumentar. É natural. Mas penso também que se chegarmos nos Emirados Árabes levando na bagagem uma boa sequência de vitórias e até mesmo um título, isso vai nos ajudar. Porque o grupo vai estar com o moral elevado. Por isso que até mesmo tratar o Torneio Apertura com seriedade pode nos ajudar a conquistar o Mundial.

RM: E o que podemos esperar desse time do Estudiantes no Mundial?

AS: Creio que a preparação vai começar, a sério, cerca de um mês antes. Aí poderemos ter noção da condição física de cada jogador após um campeonato desgastante.

RM: Enfrentar o Barcelona lhe assusta?

AS: Antes teremos um confronto com uma outra equipe. Se passarmos aí temos grandes chances de enfrentar ao Barcelona, que também terá de vencer o seu jogo. Porém acho que nesse caso vou ter de pedir à FIFA para entrar em campo com 14 jogadores. Só para tentar parar Messi.

RM: Como última pergunta, o senhor crê que a Argentina vai conseguir uma vaga para o Mundial?

AS: Temos bons jogadores, que são talentosos e atuam em clubes importantes. Mas a nossa situação está muito difícil. Mas eu creio que iremos ao Mundial e digo mais: O Brasil ganhou a Copa do Mundo em 1970 e só veio a ganhar outra no Pós-Pelé em 1994, ou seja, 24 anos depois. A última vez que a Argentina foi campeã do mundo foi em 1986, ou seja, em 2010 fará 24 anos do Pós-Maradona. É claro que são coincidências, mas tenho confiança de que a Argentina irá se classificar e que poderemos fazer um bom papel na África do Sul.

Por Raphael Martins

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